domingo, 15 de novembro de 2009



3. Fenômeno

Quando eu abri meus olhos essa manhã, algo estava diferente.
Era a luz. Ainda estava a luz cinza-esverdeada de um dia nublado na floreta, mas estava mais claro de alguma forma. Eu percebi que não havia nenhuma névoa vendando minha janela.
Eu me levantei pra olhar lá fora, e então gemi horrorizada.
Uma fina camada de neve cobria o jardim, varria a parte de cima da minha caminhonete, e deixava a estrada toda branca.
Mas essa não era a pior parte.

Toda a chuva de ontem tinha congelado, virado gelo — cobrindo o topo das árvores em fantástico padrões deslumbrantes, e cobrindo a calçada com um gelo mortal. Eu tive bastante dificuldade para não cair no chão seco; poderia estar mais seguro para eu voltar agora para cama.

Charlie tinha ido para o trabalho antes de eu descer escada abaixo. De muitos modos, vivendo com Charlie tinha como eu ter meu próprio lugar, e eu fiquei me divertindo sozinha, mesmo sem ter ninguém.

Eu joguei rapidamente no chão uma tigela de cereal e um pouco de suco de laranja da caixa de papelão. Eu me sentia excitada para ir para a escola, e isso me assustou. Eu sabia que não era o estímulo do ambiente, percebi que estava me antecipando, ou meu novo grupo de amigos. Eu tinha que ser honesta comigo mesma, eu sabia que estava ansiosa para chegar a escola porque eu veria Edward Cullen.

E isso era mesmo muito estúpido.

Eu deveria o estar evitando completamente depois de minha conversa desmiolada e embaraçosa ontem.
E eu suspeitava dele; por que ele deveria mentir sobre os olhos dele? Eu ainda estava amedrontada pela hostilidade que eu às vezes sentia emanando dele, e eu ainda ficava com a língua-amarrada sempre que olhava a face perfeita dele.
eu estava plenamente cosciente que nás eramos opostos que não se atraíam. Então eu não devia estar absolutamente tão ansiosa pra ver ele hoje.
Eu tive que usar toda a minha concentração pra conseguir sobreviver á descida nos tijolos cobertos se gelo da entrada. Eu quase perdí o equilíbrio quando finalmente cheguei á caminhonete, mas eu conseguí me agarrar no retrovisor e me salvar. Claramente, hoje seria um pesadelo.
Dirigindo para a escola, eu me distraí do medo de cair e as minhas especulações não desejadas sobre Edward Cullen e pensando em Mike e Eric, e na diferença óbvia em como os garotos adolescentes me tratavam aqui.
Eu tinha certeza que era exatamente a mesma que era em Phoenix. Talvez fosse só porque os garotos de Phoenix me viram passar por todas as fases estranhas da adolescencia e ainda pensavam em mim daquele jeito. Talvez fosse porque eu era novidade aqui, onde as novidades são algo muito raro. Talvez o meu jeito desajeitado fosse visto como uma coisa mais encarecedora do que patética, me transformando numa donzela ao invés de algum tormento. Qualquer que fosse a razão, o comportamento de cãozinho de Mike e a aparente rivalidade de Eric eram desconcertantes.Eu não tinha certeza que não preferia ser ignorada.
Minha caminhonete parecia não ter problemas com o gelo preto que cobria a estrada. apesar disso, eu dirigi bem devagar pra não cravar uma espécie de trilha na rua principal.
Quando eu saí do meu carro na escola eu ví porque eu tive tão poucos problemas.
Algo prateado chamou minha atenção, e eu caminhei para o fundo da caminhonete - segurando cautelosamente o suporte lateral- para examinar os meus pneus. Haviam pequenas correntes cruzadas em formatos de diamantes ao redor deles. Charlie deve ter acordado sabe-se lá que horas pra colocar as correntes nos meus pneus. De repente eu sentí minha garganta apertando. Eu não estava acostumada a ser cuidada, e a preocupação de Charlie me pegou de surpresa.
Eu estava no canto de trás da minha caminhonete, tentando lutar com a onda de emoções que as correntes de neve troxeram, quando eu ouví um som estranho. Era como um arranhão muito alto, estava rapidamente se tornando dolorosamente alto. Eu olhei para cima,estarrecida.
Eu ví várias coisas simultâneamente. Nada estav se mexendo em câmera lenta como acontece nos filmes. ao invés disso, a adrenalina pareceu fazer o meu cérebro trabalhar muito mais rápido, e eu fui capaz de absorver em detalhes claros várias coisas ao mesmo tempo.
Edward Cullen estava parado quatro carros á minha frente me encarando horrorizado. O rosto dele se destacou do mar de rostos, todos petrificados com a mesma expressão de choque. Mas de mais imediata importância havia uma van azul escura derrapando, pneus guinchando contra os freios, girando selvagemente no gelo do estacionamento. Ia bater num dos cantos traseiros da minha caminhonete, e eu estava entre eles. Eu nem tive tempo de fechar os meus olhos. Logo antes de ouvir o barulho de algo se quebrando vindo da carroceria da minha caminhonete, alguma coisa bateu em mim, forte, mas não da direção que eu estava esperando. Minha cabeça bateu contra o gelo empretecido, e eu senti alguma coisa sólida e fria me pressionando no chão. Eu estava deitada no chão atrás do carro de pintura queimada que estava estacionado próximo ao meu.
Mas eu não tive a chance de prestar atenção em mais nada porque a van ainda estava vindo. Ela havia feito uma curva no fundo da minha caminhonete, e ainda girando e deslizando, estava prestes a colidir comigo de novo.
Uma voz baixa me disse que alguem estava comigo,e a voz era impossível não reconhecer. Duas mãos longas, brancas ficaram protetoramente na minha frente e a van parou a um palmo de distância de mim, as mãos grandes cabendo perfeitamente num vão profundo na lateral da van. As mãos dele se moveram tão rápido que ficaram fora de foco.
Uma delas estava de repente agarrando o fundo da van, e alguma coisa estava me puxando,empurrando minhas pernas como se elas fossem de uma boneca de trapo até que elas encostaram no pneu do carro com a pintura queimada. O baque de um som metáloco fez meus ouvidos doerem, e a van estava estabilizada no chão, vidro caindo no asfalto - exatamente onde minhas pernas haviam estado.
Tudo ficou absolutamente silencioso por um longo segundo antes da gritaria começar.Mas mais claramente que a gritaria, eu podia ouvir a voz baixa, desesperada de Edward no meu ouvido.
"Bella? Você está bem?"
"Eu estou bem". Minha voz soou estranha. Eu sentei sentar, e me dei conta que ele estava me apertando do lado do corpo dele com muita força.
"Tenha cuidado",ele avisou quando eu relutei," eu acho que você bateu bem forte com a cabeça".
Eu me dei conta de uma dor pulsante centrada bem acima da minha orelha esquerda.
"Au", eu disse, surpresa.
"Foi o que eu pensei". "A voz dele, incrivelmente, fez parecer que ele estav prendendo uma risada.
"Como diabos..." eu parei, tentando limpar minha mente,me orientar.
"Como é que você chegou aqui tão rápido?"
"Eu estava parado bem ao seu lado, Bella" ele disse, seu tom estava sério de novo.
Eu tornei a sentar, e dessa vez ele deixou, soltando o seu braço da minha cintura e escorregando pra o mais longe de mim que foi possível no espaço limitado. Eu olhei para a expressão preocupada, inocente dele e mais uma vez estava disorientada pela força dos seus olhos dourados. O que é que eu estava perguntando a ele?
E então eles nos encontraram, uma multidão de pessoas com lágrimas saindo dos olhos e escorrendo pelo rosto, gritando umas para as outras, gritando para nós.
"Não se mexam" alguém instruiu.
"Tirem Tyler da van!" outra pessoa gritou.
Havia um fluxo de atividade ao nosso redor. Eu tentei levantar, mas as mãos frias de Edward me puxaram pra baixo pelo ombro.
"Fique quieta por enquanto".
"Mas está frio", eu reclamei. Eu me surpreendí quando ele gargalhou baixinho.
Havia uma margem no som.
"Você estava bem alí", de repente eu lembrei, e a gargalhada dele parou na hora. "Você estava perto do seu carro".
A expressão dele ficou dura. "Não, eu não estava."
"Eu ví você". Tudo ao nosso redor estava um caos. Eu pude ouvir a voz áspera de adultos se aproximando da cena. Mas eu obstinadamente me mantive na nossa discussão; eu estava certa, e ele ia ter que admitir.
"Bella, eu estava em pé com você, e eu te tirei do caminho." Ele usou todo o poder imenso, devastador do seu olhar em mim, como se estivesse tentando me comunicar algo crucial.
"Não", eu apertei minha mandíbula.
O dourado dos seus olhos brilhou. "Por favor, Bella".
"Porque?" eu perguntei.
"Confie em mim." ele alegou, a voz dele opressiva.
Eu podia ouvir o som de sirenes agora. "Você promete que vai me explicar tudo depois?"
"Tá bom" ele disse, subtamente exasperado.
"Tá bom", eu repeti enfurecida.
Foi preciso seis paramédicos e dois professores- Sr. Varner e treinador Clapp- para afastar a van o suficiente pra trazer macas até nós. Edward veementemente recusou a dele, e eu tentei fazer o mesmo,mas o traidor contou a eles que eu tinha batido a minha cabeça e que provavelmente tinha tido uma concussão. Eu quase morrí de humilhação quando eles colocaram o suporte de pescoço. Parecia que a escola inteira estava lá, assistindo sóbriamente enquanto eles me colocaram no fundo da ambulância. Edward pôde ir na frente.
Era enlouquecedor.
pra piorar a situação, o chefe Swan chegou antes que eles pudessem me colocar a uma distância segura.
"Bella!", ele gritou em pânico quando me reconheceu na maca.
"Eu estou completamente bem, Char- pai.", eu suspirei. "Não tem nada errado comigo."
Ele se virou para o paramédico mais próximo para pedir uma segundo opinião. Eu desliguei ele da minha mente pra tentar considerar a confusão de imagens inexplicáveis se agitando loucamente na minha cabeça.
Quando eles me tiraram de perto do carro, eu pude ver um buraco profundo na lateral do carro do carro com a pintura queimada- uma cavidade muito distinta que se ajustava ao contorno dos ombros de Edward...como se ele tivesse se forçado contra o carro com força suficiente para danificar a estrutura de metal...
E lá estava a família dele, olhando de longe, com expressões que iam da desaprovação á furia mas que não continham nenhuma espécie de preocupação com a segurança do irmão.
Eu tentei encontrar uma solução lógica que pudesse explicar o que havia acabado de ver- uma solução que excluísse a possibilidade de eu ser louca.
Naturalmente, a ambulância conseguiu uma escolta policial. Eu me sentí ridícula em cada intante enquanto eles me tiravam de lá. O que piorou a situação foi que Edward entrou no hospital por suas próprias pernas. Eu apertei meus dentes.
Eles me colocaram na sala de emergência, uam sala longa com uma fileira de camas separadas por cortinas em tom pastel. Uma enfermeira colocou um medidor de pressão arterial no meu braço e um termometro embaixo da minha língua. Já que ninguém se incomodou em puxar a cortina para me proferir alguma privacidade, eu decidí que não era mais obrigada a usar aquele suporte para pescoço ridículo.
Quando a enfermeira foi embora, eu rapidamente soltei o Velcro e joguei ele embaixo da cama.
Houve outro fluxo do pessoal do hospital, outra maca foi trazida para o meu lado. Eu reconhecí Tyler Crowley da minha aula de História embaixo das bandagens apertadas na cabeça dele que estava coberta de sangue. Tyler pareceu 100 vezes pior do que eu me sentia.
Mas ele estava me encarando ansiosamente.
"Bella, me desculpe."
"Eu estou bem, Tyler- você parece horrível, está tudo bem?" Enquanto falávamos, as enfermeiras começaram a tirar as bandagens encharcadas dele, deixando expostas uma porção de cortes superfíciais em toda a sua testa e na bochecha esquerda.
Ele me ignorou. "Eu pensei que fosse matar você!Eu estav indo rápido demais e batí errado no gelo..."
Ele choramingou enquanto a enfermeira tocava o seu rosto de leve.
"Não se preocupe com isso; você errou a pontaria."
"Como é que você saiu do caminho tão rápido? Você estava lá, e de repente não estava mais..."
"Umm... Edward me tirou do caminho."
"Quem?"
"Edward Cullen- ele estava do meu lado." Eu sempre mentí muito mal; eu não soei nem um pouco convicente.
"Cullen? Eu não ví ele...uau, foi rápido demais, eu acho. Ele está bem?"
"Eu acho que sim. Ele tá aqui, em algum lugar, mas eles não o fizeram usar uma maca".
Eu sabia que eu não estava louca. O que aconteceu? Não havia nenhuma forma de explicar o que tinha visto.
Então eles me levaram pra fazer um raio-x. Eu disse a eles que não havia nada errado comigo, e eu estava certa. Nem uma concussão. Eu perguntei se podia ir embora, mas a enfermeira disse que eu tinha que falar com um médico antes. Então eu estava presa na sala de emergência, esperando, sendo molestada pelos pedidos contantes de desculpa de Tyler e pelas promessas de que ele ia me recompensar.
Eu tentei convencê-lo de que estava bem, mas ele continuou se atormentando. Finalmente, eu fechei os meus olhos e ignorei ele. Ele continuou com o seu discurso cheio de remorso.
"Ela está dormindo?", perguntou uma voz musical. Meus olhos se abriram.
Edward estava no pé da minha cama, sorrindo. Eu encarei ele. Não foi
fácil- seria mais natural admirá-lo.
"Ei, Edward, eu lamento muito -" Tyler começou.
Edward levantou a mão para parar ele.
"Sem sangue, sem danos ",ele disse mostrando seus dentes brilhantes.
Ele foi se sentar na borda da cama de Tyler, me encarando. Ele sorriu de novo.
"Então, qual é o veredito?" ele me perguntou.
"Não tem absolutamente nada de errado comigo, mas eles não querem me deixar ir embora.", eu reclamei.
"Como é que você não está acorrentado numa cama como o resto de nós?"
"Tudo depende dos seus contatos", ele respondeu. "Mas não se preocupe, eu vim pra te animar."
Nessa hora um médico virou no corredor e o meu queixo caiu. Ele era jovem, ele era loiro... e muito mais bonito do que qualquer estrela de cinema que eu já tenha visto. No entanto, ele era pálido e parecia cansado, com círculos embaixo dos olhos. Pela descrição de Charlie, esse tinha que ser o pai de Edward.
"Então senhorita Swan", Dr. Cullen disse numa voz notavelmete atraente, "como é que você está se sentindo?"
"Eu estou bem", eu repetí pela última vez,eu esperava.
Ele caminhou para o painél de luz em cima da minha cabeça, e o ligou.
"Seu raio-x parece bom", ele disse. "A sua cabeça está doendo?Edward disse que você bateu com força."
"Ela está bem", eu repeti com um suspiro, olhando de relance na direção de Edward.
Os dedos frios do doutor tatearam levemente no meu crânio. Ele percebeu quando eu gemí.
"Delicado?" ele perguntou.
"Na verdade não", podia ser pior.
Eu ouví uma gargalhada e olhei pra ver o sorriso complacente de Edward. Eu revirei os olhos.
"Bem, o seu pai está na sala de espera- você pode ir pra casa com ele agora. Mas volte se você tiver vertigens ou se tiver qualquer problema com a sua visão."
"Eu posso voltar para a escola?", eu perguntei, imaginando Charlie tentando ser atencioso.
"Talvez você devesse pegar leve hoje".
Eu dei uma olhada pra Edward. "Ele vai poder voltar para a escola?"
"Alguém tem que espalhar a boa notícia que nós sobrevivemos", Edward disse fazendo chacota.
"Na verdade", Dr. Cullen corrigiu. "Parece que toda a escola está na sala de espera."
"Ah não", eu gemí cobrindo o rosto com as mãos.
Dr. Cullen ergueu as sobrancelhas. "Você quer ficar?"
"Não, não!" Eu insisti jogando as minhas pernas pelo lado da cama e me colocando rápido de pé. Rápido demais- eu cambaleei, e Dr. Cullen me sugurou. Ele pareceu preocupado.
"Eu estou bem." Eu assegurei pra ele. Não tinha porque dizer pra ele que os meus problemas com o equilíbrio não tinham nada a ver com o fato de eu ter batido com a cabeça.
"Tome Tylenol para a dor" ele sugeriu enquanto me sustentava.
"Não dóe tanto", eu insisti.
"Parece que você teve muita sorte", Dr. Cullen disse enquanto assinava a meu quadro com um gesto floreado.
"Sorte que Edward estava do meu lado", eu emendei com um olhar duro na direção do objeto da minha declaração.
"Oh, bem, sim", Dr. Cullen concordou, subitamente ocupado com uns papéis na frente dele.Depois ele olhou pro outro lado, pra Tyler, e andou até a próxima cama. Minha intuição flutuou; o Dr. sabia de tudo.
"Eu temo que você terá que ficar conosco um pouco mais de tempo". Ele disse para Tyler e começou a checar os cortes dele.
Assim que o Dr. ficou de costas eu me aproximei de Edward.
"Será que eu posso falar com você por um minutinho?" eu cochichei por baixo do fôlego. Ele deu um passo se afastando de mim, sua mandíbula subitamente apertada.
"Seu pai está esperando por você", ele disse entre dentes.
Eu olhei de relance pra Dr. Cullen e Tyler.
"Eu gostaria de falar com você em particular, se você não se incomodar.", eu pressionei.
Ele me olhou fixamente, e depois me deu as costas e caminhou pelo longo quarto. Eu praticamente tive que correr para acompanhá-lo.
Assim que viramos na curva para um pequeno corredor, ele se virou para me encarar.
"O que você quer?" ele perguntou, parecendo aborrecido. Seus olhos eram frios.
A expressão nada amigável dele me intimidou. Minhas palavras sairam com menos severidade do que eu pretendia. "Você me deve uma explicação", eu lembrei ele.
"Eu salvei a sua vida- eu não te devo nada"
Eu vacilei com o resentimento na voz dele. "Você prometeu."
"Bella, você bateu com a cabeça, você não sabe do que está falando"
o tom dele era cortante.
Agora o meu temperamento estava em chamas, eu encarei ele desafiadoramente. "Não tem nada errado com a minha cabeça".
Ele me encarou de volta. "O que você quer de mim, Bella?"
"Eu quero saber a verdade," eu disse."Eu quero saber porque estou mentindo por você."
"O que você acha que aconteceu?", ele soltou.
Saiu num sopro.
"Tudo o que eu sei é que você não estava em nenhum lugar perto de mim- Tyler também não viu você, então não diga que eu batí muito forte com a cabeça. Aquela van ia esmagar nós dois- e não esmagou, e as suas mãos deixaram buracos na lateral dela- e você deixou um buraco na lateral daquele outro carro, e você não está absolutamente machucado. E a van devia ter amassado as minhas pernas, mas você estava segurando ela..." Eu tinha noção do quanto aquilo soava louco, e eu não pude continuar. Eu estava com tanta raiva que podia sentir as lágrimas chegando; eu tentei forçá-las a desaparecer apertando os meus dentes juntos.
Ele estava me olhando incrédulo. Mas o rosto dele estava tenso, na defensiva.
"Você acha que eu tirei uma van de cima de você?". O tom dele questionava a minha sanidade, mas só me deixou mais suspeitas. Era como uma fala perfeitamente decorada por um ator talentoso.
Eu simplesmente afirmei com a cabeça uma vez, mandíbula apertada.
"Ninguém vai acreditar nisso, sabe." agora a voz dele tinha um tom de zombaria.
"Eu não vou contar pra ninguem". Eu disse cada palavra vagarosamnete, cuidadosamnete controlando a minha raiva.
A surpresa apareceu no rosto dele. "Então porque isso importa?"
"Importa pra mim" eu insistí. "Eu não gosto de mentir- então seria melhor se eu tivesse uma boa razão pra fazer isso."
"Será que você não pode só me agradecer e esquecer isso?"
"Obrigada", eu disse fumaçando e esperando.
"Você não vai desistir, vai?"
"Não."
"Nesse caso... eu espero que você gosto do desapontamento."
Nós nos olhamos em silêncio. Eu fui a primeira a quebrar o silêncio, tentando manter o foco. Eu corria o risco de me distrair com o seu rosto lívido,glorioso. Era como tentar encarar um anjo destruidor.
"Porque você se incomoda?" eu perguntei frigidamente.
Ele pausou, por um instante seu rosto estonteante ficou inesperadamente vulnerável.
"Eu não sei", ele cochichou.
Aí ele me deu as costas e caminhou pra longe de mim.
Eu estava com tanta raiva que demorou uns minutos até que eu pudesse me mover. Quando eu consegui andar, eu caminhei lentamente lentamente para a saída no final do corredor.
A sala de espera estava mais desagradável do que eu temia. Parecia que todos os rostos que eu conhecia em Forks estavam lá, me encarando. Charlie correu para o meu lado; eu levantei as mãos.
"Não tem nada de errado comigo", eu assegurei solenemente. Eu ainda estava importunada, sem o mínimo humor pra conversinha.
"O que o doutor disse?"
"Dr. Cullen me viu, e ele disse que eu estava bem e que podia ir pra casa.", eu suspirei. Mike e Jéssica e Eric estavam todos lá, começando a vir na nossa direção. "Vamos logo", eu apressei.
Charlie colocou o braço atrás das minhas costas, não necessariamente me tocando, e me guiou até as portas de vidro da saída. Eu acenei timidamente para os meus amigos, esperando convencê-los de que eles não precisavam mais se preocupar comigo.
Era um enorme alívio- a primeira vez que já me sentí assim - entra na viatura.
Nós dirigimos em silêncio. Eu estava tão presa nos meus pensamentos que praticamente nem reparei que Charlie estava lá. Eu tinha certeza que a postura defensiva de Edward era uma confirmação de todas as bizarrices que eu ainda não podia acreditar que tinha testemunhado.
Quando nós chegamos em casa, Charlie finalmente falou.
"Umm... você vai precisar ligar pra Renée", ele baixou a cabeça, em sinal de culpa.
Eu estava apática. " Você contou á mamãe!"
"Desculpe."
Eu batí a porta da viatura um pouco mais forte do que o necessário quando saí.
Minha mãe estava histérica, é claro. Eu tive que dizer a ela que estava bem pelo menos umas trinta vezes antes dela se acalmar. Ela me implorou pra voltar pra casa- esqucendo que nossa casa estava vazia naquele momento- mas as súplicas dela foram mais fáceis de resistir do que eu imaginava. Eu estava consumida pelo mistério que Edward representava. E uma pouco mais obsecada pelo próprio Edward.
Burra, burra, burra.
Eu não estava tão ansiosa pra deixar Forks quanto eu deveria estar, como qualquer pessoa normal e sã deveria estar.
Eu decidí que devir ir dormir mais cedo naquela noite. Charlie continuou cuidando de mim ansiosamente, e isso estava me deixando nervosa. Eu parei no caminho pra pegar três Tylenol no banheiro. Eles ajudaram, e quando a dor passou, eu peguei no sono.
Essa foi a primeira noite que eu sonhei com Edward Cullen.

4. Convite

No meu sonho estava muito escuro, e a pouco luz que havia lá parecia estar vindo da pele de Edward. Eu não conseguia ver ele, só as costas dele enquanto ele andava pra longe de mim, me deixando na escuridão. Não importava o quanto eu corresse, eu não conseguia acompanhá-lo; não importava o quanto eu gritasse por ele, ele nunca se virava. Confusa, eu acordei no meio da noite e não conseguí mais dormir pelo que pareceu ser um longo tempo. Depois disso, ele estava nos meus sonhos praticamente toda noite, mas sempre distante, nunca a meu alcance.
O mês que se seguiu ao acidente foi incômodo, tenso, e, a princípio, até embaraçoso.
Para meu desânimo, eu me tornei o centro das atenções pelo resto da semana.
Tyler Crowley estava impossível, me seguindo, obeseca com a idéia de me recompensar de algum modo. Eu tentei convencê-lo de que o que mais queria era que ele esquecesse o que aconteceu - especialmente já que nada aconteceu comigo - mas ele continuou insistindo.
Ele me seguiu entre as aulas e se sentou na nossa agora lotada mesa do almoço. Mike e Eric eram ainda menos amigáveis com ele do que um com o outro, o que me deixou preocupada por estar ganhando outro fã indesejado.
Ninguém pareceu preocupado com Edward, apesar de eu ter explicado milhões de vezes que ele era o herói - como ele me tirou do caminho e quase foi atingido também. Eu tentei ser convincente. Jéssica, Mike, Eric e todos os outros sempre comentavam que eles nem sequer tinham visto ele lá até que a van foi tirada do caminho.
Eu pensei comigo mesma porque ninguém havia visto ele em pé lá longe, antes que ele estivesse de repente, impossivelmente salvando a minha vida. Com pesar, eu me dei conta da possível causa - ninguém estava tão conscinte da presença de Edward quanto eu estava. Ninguém mais observava ele como eu. Que pena.
Edward nunca estava cercado de espectadores ansiosos pela sua atenção. As pessoas evitavam ele como sempre. Os Cullen e os Hales se sentavam na mesma mesa como sempre, sem comer,falando apenas uns com os outros.

Nenhum deles, especialmente Edward, olhou mais na minha direção.
Quando ele sentava perto de mim na sala, tão longe de mim quanto a mesa permitia, ele parecia totalmente alheio á minha presença. Só de vez em quando, quando os pulsos dele se apertavam - a pele ficava ainda mais branca ao redor dos ossos - eu ficava imaginando se ele estava mesmo tão inconscinte quanto queria fazer parecer.
Ele desejava não ter me tirado do caminho da van de Tyler - pra mim não havia outra conclusão.
Eu queria muito falar com ele, e no dia depois do acidente eu tentei. Na última vez que eu ví ele, fora da sala de emergência, nós dois estávamos tão furiosos. Eu ainda estava com raiva por ele não confiar em mim a ponto de dizer a verdade, apesar de eu estar cumprindo com a minha parte do trato perfeitamente. Mas ele tinha de fato salvado a minha vida, não importa como. Durante a noite a minha raiva se transformou em gratidão.
Ele já estava sentado quando eu entrei em Biologia, olhando diretamente pra frente. Ele não deu nenhum sinal de que sabia que eu estava lá.
"Olá Edward", eu disse agradavelmente, pra mostrá-lo que eu ia me comportar direitinho.
Ele virou uma fração na minha direção sem olhar pra mim, balançou a cabeça uma vez, e então olhou pro outro lado.
E esse foi o último contato que eu tive com ele, apesar dele estar lá, a um passo de mim, todos os dias. As vezes eu ficava observando ele, sem conseguir me controlar - á distância, contudo, na cafeteria ou no estacionamento. Eu observava como os seus olhos dourados ficavam perceptivelmente mais e mais pretos a cada dia. Mas na aula eu não dava mais atenção a ele do que ele dava pra mim.
Eu estava arrasada. E os sonhos continuavam.
Apesar das minhas mentiras deslavadas, a tenacidade doas meus e-mails alertaram Renée para a minha depressão, e ela ligou algumas vezes, preocupada. Eu tentei convencê-la de que era só o clima que estava me deixando pra baixo.
Mike, ao menos, parecia estar satisfeito pela óbvia frieza entre mim e meu parceiro de laboratório.
Eu podia ver que ele andava preocupado que o salvamento arriscado de Edward tivesse me impressionado, e ele parecia aliviado que pareceu ter o efeito o oposto. Ele ficou mais confiante, sentando na borda da minha mesa pra conversar antes da aula de Biologia começar, ignorando Edward tão completamente quanto ele ignorava nós dois.
A neve foi embora de vez depois daquele dia perigosamente gelado. Mike estava desapontado porque não pôde fazer a sua briga de bola de neve, mas satisfeito que a ida á praia seria o mais breve possível. A chuva, porém, continuou pesada e as semanas foram passando.
Jéssica me alertou de outro evento despontando no horizonte - ela ligou na primeira Terça-feira de Março pra pedir minha permissão pra convidar Mike para o baile da escolha das garotas dentro de duas semanas.
"Tem certeza que você não se importa...você não estava planejando convidá-lo?" ela insistiu quando eu disse que não me importava nem um pouco.
"Não Jess, eu não vou." eu garantí pra ele. Dançar estava além do alcance dasminha habilidades.
"Vai ser muito divertido", a tentativa de convite dela foi meio falsa. Eu suspeitava que Jéssica gostava mais da minha inexplicável popularidade do que da minha companhia propriamente dita.
"Se divirta com Mike", eu encoragei.
No outro dia, eu fiquei surpresa que Jéssica não estava sendo a mesma pessoa em Trigonometria e Espanhol. Ela estava quieta enquanto andava ao meu lado entre as aulas, e eu estava com medo de perguntar o por quê. Se Mike deixou ela na mão, eu seria a última pessoa pra quem ela iria querer contar.
Meus medos cresceram no almoço quando Jéssica se sentou tão longe de Mike quanto foi possível, conversando animadamente com Eric. Mike estava estranhamente quieto.
Mike ainda estava calado quando me acompanhou á aula, a expressão desconfortável no rosto dele era um mal sinal. Mas ele não tocou no assunto até que eu estava sentada e ele estava curvado sobre a minha mesa.
Como sempre, eu estava eletricamente consciente da presença de Edward sentado ao alcance do meu toque, distante como se ele fosse um fruto da minha imaginação.
"Então", Mike disse olhando pro chão, "Jéssica me convidou para o baile de primavera".
"Isso é ótimo". Eu fiz a minha voz ficar contente e entusiasmada.
"Você vai se divertir muito com a Jéssica"
"Bem...", ele gaguejou enquanto examinava o meu sorriso, claramente discontente com a minha resposta. "Eu disse a ela que precisava pensar."
"Porque você faria isso?" eu deixei a desaprovação aparecer no meu tom, apesar de estar aliviada que ele não tinha dado um não definitivo á ela.
O rosto dela estava vermelho quando ele olhou pro chão de novo. A piedade me deixou balançada.
"Eu estava imaginando se...bem, se você estava planejando me convidar."
Eu parei um segundo, odiando a onda de culpa que passou por mim. Mas eu ví, pelo canto dos meus olhos, quando um reflexo fez Edward virar a cabeça na minha direção.
"Mike, eu acho que você devia dizer sim pra ela", eu disse.
"Você já convidou outra pessoa?" Será que Edward percebeu os olhos de Mike na direção dele?
"Não," eu garantí pra ele "eu nem sequer vou ao baile."
"Porque não?", Mike quis saber.
Eu não queria falar sobre os perigos que dançar representava, então eu rapidamente inventei novos planos.
"Eu vou pra Seattle esse Sábado", eu expliquei. Eu precisava sair da cidade mesmo- de repente era o momento perfeito pra ir.
"Você não pode ir outra semana?"
"Desculpa, não", eu disse. "Então você não devia fazer Jess esperar mais- é rude."
"É, você está certa." ele murmurou, e se virou, arrasado, pra voltar pro seu lugar.
Eu fechei os meus olhos e pressionei os dedos nas minhas têmporas, tentando tirar a culpa e a pena da minha cabeça. O Sr. Banner começou a falar. Eu suspirei e abrí os olhos.
E Edward estava me olhando cheio de curiosidade, aquele mesmo olhar de frustração ainda mais distinto agora nos seus olhos pretos.
Eu olhei de volta, surpresa, esperando que ele olhasse rapidamente pra longe. Mas ao invés disso, ele continuou me olhando intensamente nos olhos. Eu não afastaria o olhar de jeito nenhum. Minhas mãos começaram a tremer.
"Sr. Cullen", o professor chamou, querendo a resposta para uma pergunta que eu não tinha ouvido.
"O ciclo dos caranguejos", Edward respondeu, parecendo relutante enquanto ele virava pra olhar para o Sr. Banner.
Eu olhei para os meus livros assim que estava livre do olhar dele, tentando me encontrar.Covarde como sempre, eu coloquei o meu cabelo sobre o meu ombro direito pra esconder o meu rosto. Eu não conseguia acreditar na onda de emoções pulsando no meu corpo - só porque ele olhou pra mim pela primeira vez em seis semanas.
Eu não podia permitir que ele tivesse esse nível de influência sobre mim. Era patético. Pior que patético, não era saudável.
Eu fiz o que pude pra não me dar conta da presença dele pela hora restante, e, já que era impossível, pelo menos fiz de tudo pra ele não se dar conta que eu me dava conta da presença dele. Quando o sinal finalmente tocou, eu me virei de costas pra ele pra juntar as minhas coisas, esperando que ele fosse embora imediatamente, como sempre.
"Bella?" a voz dele não devia soar tão familiar pra mim, como se eu conhecesse esse som por toda a minha vida e não por apenas algumas semanas.
Eu virei devagar, sem vontade. Eu não queria sentir o que eu sabia que ia sentir quando olhasse para o seu rosto mais que perfeito. A minha expressão era cautelosa quando eu finalmente me virei pra ele; a expressão dele era ilegível. Ele não disse nada.
"O que? Você já está falando comigo de novo?" eu finalmente perguntei, um pouco de petulância desintencional na minha voz.
Os lábios dele se contorceram, lutando contra um sorriso. "Na verdade não", ele admitiu.
Eu fechei meus olhos e inalei vagarosamente pelo nariz, consciente de que os meus dentes estavam se apertando. Ele esperou.
"Então o que você quer, Edward?" eu perguntei, mantendo meus olhos fechados; era mais fácil conversar coerentemente com ele desse jeito.
"Me desculpe", ele pareceu sincero."Eu estou sendo muito rude, eu sei. Mas desse jeito é melhor, mesmo."
Eu abrí meus olhos. O rosto dele estava sério.
"Eu não sei o que você quer dizer", eu disse, minha voz cautelosa.
"É melhor se nós não formos amigos", ele explicou. "Confie em mim".
Meus olhos reviraram. Eu já ouví isso antes.
"É uma pena que você não tenha descoberto isso mais cedo", eu falei entre meus dentes. "Você podia ter se poupado desse arrependimento".
"Arrependimento?", a palavra e o meu tom obviamente pegaram ele de surpresa. "Arrependimento pelo quê?"
"Por não ter simplesmente deixado aquela van estúpida passar por cima de mim."
Ele estava incrédulo. Ele me olhava em descrença.
Quando ele finalmente falou, ele parecia com raiva. "Você acha que eu me arrependo de ter salvado a sua vida?"
"Eu sei que você se arrepende." , eu disse.
"Você não sabe de nada", ele definitivamente estava com raiva.
Eu virei rapidamente a minha cabeça, prendendo a minha mandíbula pra não soltar de vez todas as acusações que tinha contra ele.
Eu juntei os meus livros, então me levantei e caminhei até a porta.
Eu planejava sair da sala dramaticamente da sala, mas é claro que eu batí a minha bota da porta e derrubei os meus livros. Eu fiquei lá por um momento, pensando em deixá-los. Então eu suspirei e me abaixei para apanhá-los. Ele estava lá; eles já tinha os colocado numa pilha. Ele me passou eles, sua expressão dura.
"Obrigada", eu disse geladamente.
Ele revirou os olhos.
"De nada", ele devolveu.
Eu me levantei, dei as costas pra ele e fui pra aula de ginástica sem olhar pra trás.
A ginástica foi brutal. Nós estavamos jogando Basquete. Meu time nunca me passava a bola, e isso era bom, mas eu caí muito. As vezes eu derrubava as pessoas comigo. Hoje eu estava pior que o normal porque minha cabeça estava cheia de Edward. Eu tentei me concentrar nos meus pés, mas ele voltava a inundar meus pensamentos quando eu mais precisava de equilíbrio.
Eu estava aliviada, como sempre, por ir embora. Eu quase corrí pro meu carro; havíam tantas pessoas que eu queria evitar. A caminhonete sofreu o mínimo de danos pelo acidente. Eu tive que trocar os faróis, e quando ela fosse pintada ficaria perfeita.
Os pais de Tyler tiveram que vender a van por partes.
Eu quase tive um ataque do coração quando ví uma silhueta alta, escura encostada na lateral da minha caminhonete. Então eu me dei conta que era só Eric. Eu comecei a andar de novo.
"Ei Eric", eu chamei.
"Oi Bella."
"O que foi?" eu disse enquanto destravava a porta. Eu não estava prestando atenção ao tom desconfortável da voz dele, então suas próximas palavras me pegaram de surpresa.
"Uh, eu estava só imaginando...se você não gostaria de ir ao baile de primavera comigo." A voz dele desapareceu na última palavra.
"Eu pensei que fosse escolha das garotas" eu disse, assustada demais pra ser diplomática.
"Bem, é..." ele admitiu, envergonhado.
Eu recuperei minha compostura e tentei sorrir docemente. "Obrigada por me convidar, mas eu vou pra Seattle nesse dia."
"Ah", ele disse. "Talvez da próxima vez."
"Claro", eu concordei e aí mordí meu lábio. Eu não queria que ele levasse isso muito a sério.
Ele foi embora, em direção á escola. Eu ouví uma gargalhada baixinha.
Edward estava passando pela minha caminhonete, olhando diretamente pra frente, seus lábios pressionados. Eu abrí a porta e pulei pra dentro, batendo ela com força atrás de mim.
Eu liguei o motor desafiadoramente e dei a ré saindo pelo corredor.
Edward já estava em seu carro, a duas vagas de distância, deslizando vagarosamente na minha frente, me atrapalhando.
Ele parou lá- pra esperar sua família; eu podia ver eles caminhando nessa direção, mas ainda perto da cafeteria. Eu pensei em arrancar o retrovisor do seu Volvo, mas haviam muitas testemunhas. Eu olhei no meu espelho retrovisor. Uma fila estava começando a se formar.
Diretamente atrás de mim, Tyler Crowley estava no seu Sentra usado, recentemente adquirido, acenando. Eu estava agitada demais pra prestar atenção nele.
Enquanto eu estava sentada lá, olhando pra todos os cantos menos pro carro na minha frente, eu ouví uma batidinha na minha janela do lado do passageiro. Eu olhei; era Tyler. Eu olhei de novo no meu retrovisor, confusa. O carro dele ainda estava ligado, a porta esquerda aberta. Eu me estendí pela cabine pra abrir a janela. Estava dura. Eu abrí até a metade, depois desistí.
"Desculpa, Tyler, eu estou presa atrás de Cullen", eu estava aborrecida- obviamente o engarrafamento não era culpa minha.
"Oh, eu sei- eu só queria te perguntar uma coisa enquanto estamos presos aqui", ele sorriu largamente.
Isso não podia estar acontecendo.
"Você vai me convidar para o baile de primavera?" ele continuou.
"Eu não vou estar na cidade Tyler", minha voz pareceu um pouco aguda. Eu tinha que lembrar que não era culpa dele que Mike e Eric já tinham acabado com a minha cota de paciência por aquele dia.
"É, Mike disse isso", ele admitiu.
"Então porque -"
Ele encolheu os ombros. "Eu estava pensando que você só não queria machucá-lo"
OK, foi culpa dele.
"Desculpe, Tyler", eu disse tentando esconder minha irritação. "Eu estou mesmo saindo da cidade"
"Tudo bem. Ainda temos o baile de fim de ano."
E antes que eu pudesse responder, ele estava caminhando de volta pro seu carro. Eu podia sentir o choque no meu rosto. Eu olhei pra frente pra ver Alice, Rosalie, Emmett e Jasper todos entrando no Volvo. No espelho retrovisor dele, os olhos de Edward estavam em mim. Ele estava inquestionávelmente se balançando de rir, como se ele tivesse ouvido cada palavra de Tyler.
Meu pé se aproximou do acelerador... um empurrãozinho não ia machucar nenhum deles, só aquela pintura prateada do Volvo. Eu acelerei o motor.
Mas eles estavam todos dentro, e Edward estava indo embora. Eu dirigí pra casa devagar, cuidadosamente, murmurando pra mim mesma durante o caminho inteiro.
Quando eu cheguei em casa, eu resolví fazer enchiladas de frango pro jantar. Era um longo processo, e me manteria ocupada. Enquanto eu estava picando as cebolas e o chili, o telefone tocou. Eu estava quase com medo de atender, mas podia ser Charlie ou minha mãe.
Era Jéssica, e ela estava exultante; Mike alcançou ela depois da escola para aceitar o seu convite. Eu comemorei brevemente com ela enquanto me movimentava. Ela tinha que desligar. Ela tinha que ligar pra Angela e Lauren pra contar a elas. Eu sugerí - com uma inocência casual- que talvez Angela, a garota tímida que tinha Biologia comigo, podia convidar Eric. E Lauren, uma garota reservada que sempre me ignorava na mesa do almoço, podia convidar Tyler; eu tinha ouvido dizer que eles estavam disponíveis. Jess achou que essa era uma ótima idéia. Agora que ela tinha certeza de Mike, ela realmete pareceu sincera quando disse que gostaria que eu fosse para o baile. Eu dei a desculpa de Seattle.
Depois que eu desliguei, eu tentei me concentrar no jantar- cortando o frango especialmente; eu não queria fazer outra visitaá sala de emergência. Mas a minha cabeça estava rodando, tentando analizar cada palavra que Edward havia dito hoje. O que ele queria dizer com , era melhor que não fôssemos amigos?
Meu estômago revirou quando eu entendí o que ele queria dizer. Ele deve ter reparado no quanto eu estava absorvida por ele; ele não deve querer que eu me engane...então não poderiamos ser amigos... porque ele não estava nem um pouco interessado em mim.
É claro que ele não estava interessado em mim, eu pensei com raiva, meus olhos pulsando- uma reação ás cebolas. Eu não era interessante. E ele era. Interessante...e brilhante...e misterioso...e perfeito...e lindo...
...E possívelmente capaz de levantar vans com uma mão só.
Bom, tudo bem. Eu podia deixá-lo em paz. Eu ia deixá-lo em paz. Eu ia suportar a sentença dada por mim mesma aqui no purgatório, e talvez alguma escola no Sul, possivelmente no Havaí ia me dar uma bolsa de estudos.
Eu me concentrei em praias ensolaradas e palmeiras enquanto terminava as enchiladas e colocava elas no forno.
Charlie pareceu desconfiado quando chegou em casa e sentiu o cheiro dos pimentões. Eu não podia culpá-lo- a única comida Mexicana próxima do comestível estava no Sul da Califórnia. Mas ele era um policial, mesmo que um policial de uma cidade pequena, então ele foi corajoso o suficiente pra dar a primeira mordida. Ele pareceu gostar. Era engraçado observar enquanto ele começava a confiar em mim na cozinha.
"Pai?" eu perguntei quando ele já estava quase acabando.
"Sim, Bella?"
"Um, só queria te dizer que eu vou pra Seattle no próximo Sábado...tudo bem?" Eu não queria pedir permissão- deixava uma má imagem- mas eu achei rude, então mudei de idéia no fim.
"Porque?", ele pareceu surpreso, como se ele não pudesse imaginar algo que Forks não pudesse oferecer.
"Bom, eu queria ir pegar alguns livros- a biblioteca daqui é bem limitada- e talvez vez algumas roupas." Eu tinha mais dinheiro do que estava acostumada, desde que, graças ao Charlie, eu não precisei comprar um carro. Não que a caminhonete não fosse cara em se tratando de gasolina.
"Essa caminhonete provavelmente não faz uma milhagem muito boa com a gasolina", ele disse fazendo um eco com os meus pensamentos.
"Eu sei, eu vou parar em Montesano e Olympia- e Tacoma se precisar."
"Você vai sozinha?", ele perguntou, e eu não conseguí dizer se ele pensava que eu tivesse um namorado secreto ou se ele só estava preocupado por causa do carro.
"Sim".
"Seattle é uma cidade grande, você pode se perder", ele disse.
"Pai, Phoenix é cinco vezes maior que Seattle- e eu sei ler um mapa, não se preocupe."
"Você quer que eu vá com você?"
Eu tentei ser profissional enquanto escondia o meu horror.
"Está tudo bem pai. Eu provavelmente estarei em provadores o dia inteiro- muito chato."
"Oh, OK". O pensamento de passar o dia inteiro sentado em lojas de roupas de mulher acalmou ele imediatamente.
"Obrigada." eu sorrí pra ele.
"Você vai estar de volta á tempo pro baile?"
Grrr. So numa cidade pequena como essa os pais sabem quando são os bailes.
"Não- eu não danço pai." Ele, de todas as pessoas,devia entender isso- eu não herdei os problemas de equilíbrio da minha mãe.
Ele entendeu. "Oh, tudo bem." Ele se tocou.
Na manhã seguinte, quando eu estacionei no estacionamento, eu deliberadamente estacionei o mais distante possível do Volvo prateado. Eu não queria cair em tentação e acabar fazendo ele merecer um carro novo. Saindo da cabine, eu deixei as chaves cairem numa poça aos meus pés. Enquanto eu me abaixava para apanhá-las, uma mão branca pegou-as num flash antes que eu pudesse tentar.
Edward Cullen estava bem na minha frente, encostado casualmente na minha caminhonete.
"Como você faz isso?"
"Faz o que?" Ele me passou as chaves enquanto falava. Quando eu ia apanhá-las ele jogou elas na palma da minha mão.
"Aparece do nada"
"Bella, não é culpa minha que você não é particularmente observadora" a voz dele era quieta como sempre- aveludada, emudecida.
Eu olhei para o seu rosto perfeito. Os olhos dele estavam claros hoje de novo, uma cor dourada da cor do mel, profunda.
Então eu tive que olhar pra baixo pra reagrupar os meus pensamentos agora confusos.
"Porque aquela pataquada no tráfego ontem?" eu perguntei de uma vez, ainda olhando pra longe. "Eu pensei que você devia estar me ignorando e não me irritando até a morte."
"Aquilo foi pro bem de Tyler, não pro meu. Eu tinha que dar uma chance a ele." ele riu silenciosamente.
"Você..." eu gaguejei. Eu não conseguí pensar numa palavra ruim o suficiente.
Eu sentí que o calor daminha raiva podia queimá-lo fisicamente, mas ele parecia estar se divertindo.
"Eu não estou fingindo que você não existe", ele continuou.
"Então você está tentando me irritar até a morte? Já que Tyler não conseguiu terminar o trabalho?"
A raiva transpareceu nos seus olhos. Os seus lábios se pressionaram até formar uma linha fina, todos os sinais de humor tinham desaparecido.
"Bella, você é muito absurda", ele disse, sua voz baixa estava fria.
Minhas palmas coçaram- eu queria tanto bater em alguma coisa. Eu estava surpresa comigo mesma. Normalmente eu não era uma pessoa violenta. Eu dei as costas e comecei a caminhar.
"Espere", ele chamou. Eu continuei andando, caminhando furiosamente pela chuva. Mas ele estava perto de mim, acompanhando o passo facilmente.
"Me desculpe por ser rude", ele disse enquanto andávamos. Eu ignorei ele. "Eu não estou dizendo que não é verdade", ele continuou, "Mas mesmo assim foi rude."
"Porque você não me deixa em paz?", eu murmurei.
"Eu queria perguntar uma coisa, mas você me desconcentrou",ele riu.
Ele parecia ter recuperado o bom humor.
"Você tem alguma disordem de múltipla personalidade?", eu perguntei severamente.
"Você está fazendo de novo".
Eu suspirei. "Tá bom, o que você quer perguntar?"
"Eu estava imaginando se no Sábado da próxima semana- você sabe, no dia do baile de primaveira-"
"Você está tentando ser engraçado ?" Eu interrompí me virando pra ele. Meu rosto ficou encharcado quando eu olhei pra cima pra ver sua expressão.
Seus olhos estavam estranhamente divertidos. "Será que você pode me deixar terminar por favor?"
Eu mordí meu lábio e juntei minhas mãos, entrelaçando meus dedos, assim eu não faria nada de que eu pudesse me arrepender.
"Eu ouví você dizendo que vai pra Seattle nesse dia, e eu estava imaginando se você quer uma carona."
Isso foi inesperado.
"O que?" Eu não tinha idéia de onde ele queria chegar.
"Você quer uma carona até Seattle?"
"Com quem?" eu perguntei, mistificada.
"Comigo, obviamente". Ele pronunciou cada sílaba, como se estivesse falando com alguém mentalmente incapacitado.
Eu ainda estava atordoada. "Porque?
"Bom, eu estava planejando ir á Seattle nas próximas semanas, e, pra ser honesto, eu não tenho certeza se o seu carro aguenta."
"Minha caminhonete funciona muito bem, obrigada pela preocupação." Eu comecei a andar de novo, mas eu estava muito surpresa pra manter o mesmo nível de raiva.
"Mas a sua caminhonete consegue chegar até lá com um tanque de gasolina?" Ele acompanhou o meu passo de novo.
"Eu não vejo como isso pode ser da sua conta." Estúpido dono do Volvo brilhante.
"O desperdício de bens findáveis é da conta de todo mundo."
"Honestamente, Edward",eu sentíuma alegria percorrer meu corpo quando eu disse o nome dele. "Eu não consigo te acompanhar. Eu pensei que você não queria ser meu amigo."
"Eu disse que seria melhor se não fôssemos amigos, não que eu não queria ser."
"Oh, obrigada, isso esclarece tudo" Sarcasmo pesado. Eu percebí que tinha parado de caminhar de novo. Estávamos sob o teto da cafeteria agora, então eu podia olhar para o seu rosto com mais facilidade. O que certamente não ajudou muito na claridade do pensamento.
"Seria mais...prudente se você não fosse minha amiga", ele explicou. "Mas eu estou cansado de tentar ficar longe de você, Bella."
Seus olhos estavam gloriosamente intensos enquanto ele pronunciava a última frase, sua voz flamejante. Eu não conseguia lembrar de respirar.
"Você vai pra Settle comigo?" ele perguntou, ainda intenso.
Eu ainda não conseguia falar, então só balancei a cabeça.
Ele sorriu brevemente, então seu rosto ficou sério.
"Você realmente devia ficar longe de mim", ele avisou. "Te vejo na aula."
Ele se virou abruptamente e caminhou pra o lugar de onde tinhamos vindo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário